NÃO à redução da maioridade: PEC 171/93 - Justiça ou Vingança?
Uma reflexão das Igrejas e Organismos Ecumênicos - Fórum Ecumênico ACT Brasil
“Crucifica-o, crucifica-o” foi o grito que se
escutou ontem (31 de março) quando, por 42 votos a favor e 17 contra,
a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara votou favorável
à admissibilidade da PEC 171/93, que reduz a maioridade penal de 18
para 16 anos. Esta aprovação pode, de maneira arriscada, abrir precedentes para
o enfrentamento a outras cláusulas pétreas da Constituição, como a garantia de
Direitos Humanos.
Em um país onde o sistema carcerário
é falido e as prisões mostram-se como centros de tortura e de tantas outras
violações de direitos, sem a reabilitação como um horizonte possível; aliado ao
fato de que a maioria desta juventude é jovem, pobre e negra, algo que revela o
racismo institucional que estrutura a segurança pública em nosso país, esta
notícia é profundamente lamentável.
Pesquisas mostram que do total de
homicídios cometidos no Brasil nos últimos 20 anos, apenas 3% foram realizados
por adolescentes. Em 2013 foram apenas 0,5%. Por outro lado, são os jovens (de
15 a 29 anos) as maiores vítimas da violência. Em 2012, entre os 56 mil
homicídios em solo brasileiro, 30 mil eram jovens, em sua maioria negros e pobres.
Antes de se pensar em punir e
trancafiar os jovens em presídios superlotados, é preciso garantir políticas
públicas que ofereçam à juventude: educação de qualidade, saúde, lazer,
perspectivas de trabalho. Trata-se, primeiro, da efetivação de duas importantes
cartas de direitos: o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto da
Juventude, uma legislação que é reconhecida como modelo pela Organização das
Nações Unidas (ONU). O caminho escolhido pela Comissão de Constituição e
Justiça - com o decisivo apoio do presidente da casa Eduardo Cunha - sem um
diálogo efetivo com a sociedade e com movimentos organizados, coloca-se como
saída para a redução da violência, mas consideramos esta proposta uma falácia.
Há exemplos na Alemanha e na França que mostram o contrário. Após reduzir a
maioridade penal, a violência não diminuiu e estes países voltaram atrás em sua
escolhas.
Neste debate, muitos mitos foram
construídos, encobrindo marcas da realidade. Além dos citados anteriormente, um
outro é a sensação de impunidade. No Brasil, as(os) adolescentes que cometem
atos infracionais cumprem medidas socioeducativas a partir dos 12 anos. Por
essa escolha, o nosso país é uma das nações que mais cedo aplica tais atos em
todo mundo. Junto a isto, ao pensar no cumprimento da justiça, não podemos
estar orientadas(os) pela lógica da vingança e do ódio, mas da reintegração e
ressocialização, colocando sobre o estado o compromisso com políticas públicas
para a juventude.
Diante do exposto, as igrejas e
organismos ecumênicos que compõem ao Fórum Ecumênico Brasil (FEACT-Brasil) vêm
a público manifestar seu repúdio à aprovação, em primeira instância, da redução
da maioridade penal defendidas por alguns setores da sociedade e em tramitação
no Congresso Nacional. Reafirmamos a necessidade de que a legislação em vigor
aplique as medidas socioeducativas já previstas em lei de maneira eficaz junto
às (aos) adolescentes infratores, a fim de que possam retornar ao convívio da
sociedade sem se tornarem uma ameaça e um estigma, mas cidadãos plenamente
reintegrados.
Reafirmamos nossa posição: não
à redução da maioridade penal!
Fórum Ecumênico ACT Brasil