Opinião: INCLUSIVIDADE

     Neste ano, os anglicanos completam 200 anos de presença na Bahia. Diante desse contexto, cabe perguntarmo-nos: tem a Comunidade Anglicana da Bahia uma missão específica para o tempo atual? Arrisco, de antemão, a responder que sim e a indicar qual seja: a inclusividade.
     Sabemos que a inclusividade está enraizada na própria história do Anglicanismo, desde quando a diversidade do Cristianismo Celta foi acolhida na Igreja pelo Concílio de Whitby (664), e desde quando o Ato de Inclusividade elisabetano (1559) buscou conciliar dentro da Igreja - tanto as vertentes católicas quanto as ideias reformadas. Na história recente, podemos observar o conceito de Comunhão Anglicana e da instituição das Conferências de Lambeth (1867) como indicadores do respeito à diversidade, sem renunciar à unidade. Por essa razão, enxergamos a inclusividade como dimensão intrínseca ao Anglicanismo.
     Quando apontamos a inclusividade equivalente a uma contribuição específica da Comunidade Anglicana da Bahia, estamos pensando desde o ponto de vista da dimensão ecumenismo, até as demais inclusões sociais. Destas, o reconhecimento de direitos aos homoafetivos é, sem sombra de dúvidas, o que está evidenciado nas conversas do dia-dia.
     Ecumenicamente, o fato do Anglicanismo se reconhecer como comunidade de fé credal e não confessional possibilita uma distinta liberdade de relacionamento com as demais comunidades cristãs. Muito embora haja os Trinta e Nove Artigos da Religião (1563) e o Quadrilátero de Chicago-Lambeth (1886-1888), que buscam delinear traços comuns à fé anglicana, o Anglicanismo se ampara basicamente nos Credos históricos (Apostólico, Niceno-Constantinopolitano) e não numa confissão específica do Anglicanismo.
     Desse modo, a Comunhão Anglicana se constitui uma comunidade de fé aberta, entende-se como um lugar a serviço da vida interior e de salvaguarda da dignidade humana. Ela se posta na contramão da patologia de autofinalização de que fala Leonardo Boff, em relação às religiões e igrejas: aquela doença de se considerarem fins em si mesmas. Vale a pena ressaltar que a fonte da inclusividade é a própria Trindade que, no Mistério da Encarnação, se abre para acolher a humanidade. O ícone da Trindade de André Rublev, aliás, é uma boa metáfora dessa realidade: na mesa do banquete da Trindade, há um espaço aberto para a inclusão da humanidade amada por Deus!
     É para esse mistério que a inclusividade anglicana aponta e sabemos bem o quanto ela é importante na excludente Bahia travestida de Todos os Santos!

Adriano Portela é mestre em literatura e cultura, e teólogo.



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