Opinião







Patrícia Valim

     A Igreja Batista Nazareth (Salvador/BA) é uma comunidade cristã que, dentro das possibilidades, luta contra as formas de opressão social. Nesse contexto, o grupo costuma organizar um encontro chamado Jantar Teológico, onde os ouvintes assistem a uma palestra e ao final, todos participam de um jantar. 
     Na noite do último dia 21, a janta teológica tratou das Famílias Brasileiras na Atualidade, Diversidade e Predominância, sob a tutela da historiadora Patrícia Valim. A militante concentrou a argumentação na monoparentalidade feminina. Dentro da realidade brasileira, a mulher negra, classe baixa, solteira, viúva, abandonada, separada e com filho (s) é a que forma o contingente.  
     Para exemplificar esse grupo social vulnerável, Valim relatou que tais mulheres se casavam com traficantes de escravos no Brasil do século XVI. Ao traçar a perspectiva da situação contemporânea, a palestrante citou os casos da Irlanda e Canadá, países que reconheceram publicamente terem obrigado mães solteiras a colocar os próprios filhos para adoção. 


     Outro ponto substancial da fala da historiadora se referiu ao Estatuto da Família no Brasil. O documento apenas reconhece o formato pai – mãe (com filhos) como modelo de família, ignorando as demais configurações, a exemplo da família bi-racial, multi-racial, homoafetiva e até aquela pessoa que mora sozinha. O impacto negativo da invisibilidade das outras famílias brasileiras, certamente impede a ampliação de políticas públicas voltadas para esses cidadãos, os quais votam e pagam impostos.
     Após a explanação, Valim respondeu os questionamentos da plateia. Curiosamente, uma das espectadoras – jovem negra – declarou estar admirada por atestar que uma mulher branca, classe média, pudesse dominar o assunto, sobretudo acerca da monoparentalidade feminina. Dias atrás escutei uma artista trans afirmar que somente atores trans podem viver personagens trans no cinema.
     Deixando a polêmica de representatividade das minorias para outra ocasião, creio que a palestra cumpriu a tarefa de multiplicar a reflexão sobre as mulheres solteiras com filhos que enfrentam desemprego, jornada dupla de trabalho, questões envolvendo aborto e afins. Por outro lado, a professora foi bastante parcial ao comentar sua insatisfação com o momento político brasileiro, aproveitando para relembrar os benefícios alcançados ao longo do governo petista.

Fotos e texto de Osvaldo Junior, jornalista.

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