Mês da Consciência Negra - parte 1

Blog Edson Cláudia

  Brasil colonial, 20 de novembro de 1695. A data é marcada pela morte de um dos principais líderes do Quilombo dos Palmares, Zumbi. A comunidade estava situada no interior de Alagoas e era constituída de africanos fugidos do sistema escravista. De acordo com o escritor Nelson Ramos Barretto, Palmares tinha uma política opressora. “Zumbi mantinha escravos de tribos inimigas para os trabalhos do quilombo”, conta ele no livro Revolução Quilombola, Guerra racial, Confisco agrário e urbano, Coletivismo. Herói e vilão, a figura de Zumbi se torna símbolo de luta contra o preconceito de etnia, ressignificando o imaginário de falas, atitudes e ideias sobre negritude. Para ajudar no caminho que busca melhor compreender a relação entre raça, etnia, cor da pele e identidade, leia os depoimentos de personagens negros e negras deste país. Por Osvaldo Junior, repórter, DRT 3612 BA.  
  OJ: Seu trabalho é a formação de adultos, jovens e crianças, ensinando língua portuguesa e inglês. Você enfrenta discriminação por ser mulher negra?
  
  Estele Cardoso (Professora de escola pública): “Sim, infelizmente. É possível afirmar que há discriminação de gênero e de cor da pele, na mesma proporção. A maior tristeza é perceber que pessoas que fazem parte do teu dia a dia e dizem não ser racistas, pronunciarem  discursos de cunho racista e não se dão conta disso. Estava com uma amiga caucasiana, olhos verdes e cabelos loiros dias desse. Ela estava ao volante e sinalizou que iria entrar à direita, o motorista que vinha na via principal não deu passagem, após ele passar por nós, ela disse "poxa, ele não deu passagem, tinha que ser"... Deixou no ar... O motorista era negro. Do mesmo modo vemos discriminação contra mulheres e também contra pessoas que tem a orientação homossexual, transgênero e outras”.

  OJ: Você tem uma caminhada como pesquisadora na área educacional e teológica. Nessa trajetória, ainda se depara com situações que lhe discriminam pelo gênero ou cor da pele?

  Lílian Lira (Doutora em teologia): “Tenho aprendido cada vez mais com a interseccionalidade proposta pela pesquisadora afro-americana Kimberlé Crenshaw, a importância da imbricação entre gênero, raça e classe como fundamentalmente importantes para enxergar-me como sujeito que vive diariamente relações sociais maculadas pelas ideologias do racismo e do machismo. O racismo e o sexismo são ideologias muito presentes no quotidiano das relações sociais estabelecidas. Valer menos numa sociedade assim é um imperativo do sistema e independe de nossa vontade. De modo que sim, embora em menor grau, sou discriminada por ser mulher negra. No entanto, como mulher negra de pele clara, à luz do que anuncia a filósofa feminista afro-brasileira Sueli Carneiro, sinto-me menos vulnerável à discriminação racial que acomete muito mais às mulheres negras com maior percentual de melanina, já que o fenótipo, ou seja, que determina a cor da pele, define o grau de discriminação que se impõe sobre as pessoas”.


Postagens mais visitadas