Entrevista com Judith Butler (parte 2)

Judite Butler; Wikimedia Commons

No Brasil, conservadores radicais tem se mobilizado contra iniciativas de discussão de gênero, direitos LGBTQ e feminismo, que muitos entendem como parte de uma agenda de imposição da "ideologia de gênero". Até mesmo sua conferência em São Paulo tornou-se alvo, com uma petição online alegando que "os brasileiros" não desejam sua presença em um "evento comunista". Na sua opinião, por que o debate a respeito do gênero inspira tanto medo e desentendimentos?

Talvez “gênero” seja uma palavra que nomeia a circunstância de mudança nas normas sociais. O ataque ao “gênero” provavelmente emerge do medo a respeito de mudanças na família, no papel da mulher, na questão do aborto e das tecnologias para reprodução, direitos LGBTs e casamento homoafetivo.
Para aqueles que acreditam que “homens” e “mulheres” são naturalmente dotados de traços que os levam necessariamente a participar de um casamento heterossexual e da formação de uma família, é desconcertante e, talvez, assustador perceber que algumas pessoas designadas ao nascer para as categorias “masculina” e “feminina” não desejem permanecer naquela categoria, ou que algumas mulheres não queiram ter filhos ou que algumas famílias sejam formadas por gays. 
Todos esses elementos são desafiadores. Nunca me ocorreu que a conferência seja “comunista”, ainda que exista nela uma preocupação sobre formas de autoritarismo e aumento das condições de precariedade na economia. No entanto, não estou certa de que isso a qualifique como “comunista”.

Entrevista concedida para o colaborador José Antonio Lima. Disponível na Carta Capital, edição nº 978 de 15/11/17.

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